Temas: Maternidade - Perda da Liberdade - Vidas Não Vividas
Há algo de disperso e ligeiramente errante no filme que a Netflix liberou no último dia do ano. Ele veio para inspirar e, ao mesmo tempo, rasgar com o tema envolvendo a beleza da maternidade. Aliás, ser mãe é algo natural e cercado de amor incondicional como o mundo espera das mulheres?
Diante dessa premissa, quem viverá os tais dilemas será Leda, uma mulher de 48 anos, mãe de duas filhas, que está em férias em uma praia reclusa. A tranquilidade do lugar em que a personagem está hospedada é literalmente pulverizada com a chegada de uma família numerosa e barulhenta.
Atraída pelo estilo desdenhado daquelas pessoas, Leda se aproxima de Nina, uma jovem que tenta reunir amor, sexo e o cuidado da filha pequena num cotidiano abafado por cobranças.
Surge então um contraste entre as duas mulheres que irá revelar arestas antigas reprimidas por Leda. O passado volta com força e clama por expurgos anteriormente não realizados. É o espaço perfeito para o feminino se redescobrir e também confrontar o espectador.
Assim como a trama não tenta agradar ninguém, Leda igualmente não cria concessões. A mulher do início da viagem, que chegou à praia, não é mais a mesma, e quem a acompanha naquele pequeno paraíso vai percebendo a mudança. Através de camadas emocionais, ricas em detalhes e sutilezas, a personagem se desconstrói, criando uma nova combinação na maneira que irá caminhar no mundo.
Há quem diga que Olivia Colman (Leda) chegou de mansinho para tentar abocanhar o Oscar de Melhor Atriz. Eu estou gostando bastante da ideia. O filme todo é dela, que caminha livre, reflexiva e atordoada pela praia. O roteiro é baseado no livro “A Filha Perdida”, da escritora italiana Elena Ferrante.
O filme faz uma pequena ode ao feminino e às condições subjugadas do poder de escolha das mulheres. Nada é o que parece ser, e ninguém em férias deseja permanecer o mesmo.
(L.Cirumbolo)
