Temas: relacionamento amoroso na maturidade - sexualidade - novas realidades

O Cinema tem desses repentes e pequenos chamados: sempre que traz suas estreias, ou é um arrasa quarteirões ou uma pérola a ser descoberta. E "Deixe-me", dirigido e escrito por uma autora estreante (Maxime Rappaz), é uma dessas obras que arrebata sem fazer barulho. Só apertando o peito devagarzinho.
A cada terça-feira, uma vizinha cuida do filho de Claudine enquanto ela vai a um hotel nos Alpes Suíços para encontrar com homens que estão de passagem. É o seu tempo e espaço para um respiro, para sentir os impulsos de um feminino que ainda anseia por novas histórias.
Quando ela conhece Michael entre os homens que circulam no hotel, Claudine é tomada por sentimentos que lhe atravessam sem maiores avisos, levando o coração a um descompasso. O cotidiano torna-se mais interessante nos entreatos e quando novos personagens despertam anseios quase adormecidos.
Conforme vai abrindo espaço para que um romance se desdobre, Claudine começa também a colocar a vida na pacata cidade em ordem, mudando pessoas e tarefas de lugar. Enquanto vibra ao toque de Michael, o olhar da mulher solta faíscas revelando um discreto renascimento interior.
O que igualmente chama atenção, além da dupla afinada, é a presença contrastante do cenário gelado de um cantão da Suíça. A personagem perambula por paisagens solitárias e esvaziadas de cores, trazendo uma dialética entre estados emocionais-ambientais que se complementam de modo fascinante.
À medida que o roteiro avança, Claudine se aproxima do limiar entre dois mundos que não combinam entre si, levando a mulher à uma decisão de como poderá pagar o preço de assumir a própria liberdade.
Talvez, a melhor história a ser contada, seja exatamente aquela que carregamos secretamente, no fundo do peito, a qual disfarçamos com um sorriso diante do outro. Para tal constatação, uma boa dose de coragem nunca será demais diante do impulso de trazer a própria alma para o centro do mundo.
(por Luciano Cirumbolo)
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