Um dos grandes temas universais, “a família e o seu entorno”, está de volta às telas agora na perspectiva de uma diretora bastante sensível e competente, Laís Bodanzky, que conduz com olhos sagazes e evocações sinceras os dramas de Rosa e Eduardo.
Maria Ribeiro encabeça a história de uma mulher beirando os 40 anos, que vive uma crise no casamento com Paulo Vilhena. Como se não bastasse, a personagem alimenta uma relação truncada e repleta de ressalvas com a mãe, Clarice, interpretada pela ótima Clarisse Abujamra.
Enquanto a trama aproxima dois universos caóticos, observamos na tela a forma como a personagem se relaciona com o seu trabalho, as tarefas domésticas, a atenção dada às duas filhas e o cuidado de si, inserindo Rosa como aquela que unirá céu e inferno na tarefa de recriar novas respostas de vida.
Bodanzky não está preocupada em agradar ninguém ou conduzir uma história de concessões. Ela gosta mesmo é da secura e da acidez como elementos favoráveis a uma boa coagulação emocional. Assim fica claro já na primeira cena do filme, quando todos estão sentados à mesa do almoço e uma discussão rasga o falso tom de união entre os presentes, cujo clima amargo só será dissipado quando uma chuva inesperada chega para espantar todos de seus lugares.
A busca por uma regulação dos afetos é feita quando Rosa tenta se reaproximar da mãe e, ao mesmo tempo, observa o movimento do marido dentro da família, percebendo o parceiro cada vez mais distante e apático. A possibilidade de uma relação extraconjugal não é descartada e Rosa começa a demarcar o terreno de Dado.
O grande trunfo surge quando a diretora dá força para as mulheres em cena e coloca em xeque o papel do masculino na ciranda dos relacionamentos, dando a entender que os homens estão sempre barganhando ou se eximindo de responsabilidades maiores diante de qualquer investida.
Assim percebemos Dado dentro do movimento da casa, que leva uma vida despreocupada e reticente, enquanto Rosa se mostra em crise a todo momento, criando um contraste acerca do papel real (ou sincero) de cada um dentro da família e as personas que todos apresentam socialmente.
Os papéis sociais ganham forte importância a partir do chamado que Bodanzky lança ao espectador no enfrentamento de grandes temas que circundam os personagens, tais como casamento, maternidade x paternidade, liberdade, traição e finitude, assuntos estes que no fundo dizem respeito a todos nós.
Dessa forma, enquanto Rosa avança buscando outros paradigmas, um novo universo de possibilidades vai se descortinando conforme as pedras vão sendo lapidadas no caminho, revelando o quanto as feridas e os sentimentos mais cortantes são melhor resolvidos nas lacunas que atravessam os relacionamentos, mais precisamente nos abismos que separam as pessoas de suas verdades.
Fotos de Divulgação:
(1) Rita Ribeiro e Clarisse Abujamra
(2) Rita Ribeiro (refletindo)
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